09 março, 2023

Terceira Idade – À procura de uma nova perspectiva - por Sandra Andrade




Os idosos de hoje são o nosso futuro de amanhã. Um espelho que procuramos evitar a todo o custo. Somos jovens e vivemos como se fossemos jovens para sempre. A vida é um rodopio. Evitamos essa imagem de que um dia seremos idosos. Não, isso não é para nós. É para os outros. Nós vamos ser jovens para sempre. Mas não é bem assim. Não vivemos num conto de fadas em que somos felizes para sempre e ninguém quer falar em velhice, em doenças, em chatices. Empurramos os idosos para lá da nossa memória. Para dentro da casa deles. Para os hospitais. Para os Centros de Dia, para os Lares de Idosos, ou Casas de Acolhimento que é um nome mais pomposo. Ou Residencial.


Desde que fiquem fora da nossa vida. Desde que não fiquem lá a se lamentar e a nos lembrar que um dia seremos nós. Seremos nós a lamentar, a lamuriar, a querer chamar a atenção. A grande pergunta é a seguinte: O nosso futuro tem de ser assim? E se encararmos a resposta como um grande não? Vai de facto contra a maioria. Os idosos são considerados empecilhos. Não são úteis para a sociedade. Não dizem nada de útil e não fazem nada de útil. O seu tempo acabou. Já não tem palavra a dizer. Devem se remeter ao seu silêncio. À sua dor, às suas doenças, à sua solidão e às suas dores emocionais. Porque na sociedade não existe lugar para eles.


Mas se pudermos dizer um grande não a este futuro, como mudá-lo? Porque tem tudo de ser tão negro, tão fugaz e tão vazio? Um dia temos valor, no outro não valemos nada? Mesmo com doenças físicas ou mentais, com o envelhecimento do nosso corpo, com os cabelos brancos, todos nós merecemos respeito. Aos menos capazes é necessário dar todo o carinho e amor como tratamos os bebés que nascem completamente dependentes de terceiros. Porque tem de ser diferente no caso da terceira idade?


O nosso medo de envelhecer impede-nos de ver os idosos como eles são: Pessoas, seres humanos com sentimentos, com coração, com vivências. Que amaram, sofreram, tiveram alegrias, trabalharam, correram atrás de sonhos. Temos medo de envelhecer e ficarmos incapazes. Essa é uma realidade possível. Mas e os idosos que não apresentam sinais de doenças incapacitantes? Serão esses obrigados a ficar sentados à frente da televisão o dia todo após muitos anos de contribuição para a sociedade? É imperativo que aceitemos que a velhice existe e ela não tem de ser vivida frente ao televisor.


Cabe a nós, de qualquer idade, até mesmo já sendo idosos, começar a mudança. Mudar mentalidades. Mudar hoje para amanhã usufruir. Mudar hoje para que os idosos de hoje possam usufruir. Há que quebrar conceitos. Há que criar novos conceitos. Há que criar esperança. Imaginem uma sociedade onde os idosos não são atirados para lares, hospitais, etc. Onde os idosos são valorizados pelas suas capacidades e pelos seus saberes. Onde os idosos são professores da vida. Onde os idosos estão apenas noutra fase da sua vida. A terceira idade. As doenças existem, mas a vida também existe.


Como se sentiria se de repente acordasse num corpo idoso e fosse a pessoa que é hoje, uma pessoa inteligente, activa, que gosta de se realizar, e lhe dissessem que de hoje em diante teria de se sentar naquela cadeira, com cerca de mais quinze pessoas na mesma sala, todas elas com características e personalidades diferentes e lhe dissessem: De hoje em diante a única coisa que pode fazer é acordar, tomar banho, comer e ver televisão. Para o resto da sua vida. Não seria incapacitante? Pois então, já sabe o que sentem os idosos. Não admira que estejam tristes. Pensam que a vida tem de ser assim. Que tem de se conformar porque isso é ser idoso. Mas não é. Não é. Cabe a nós mudar essa ideia. Mudar essa ideia que os idosos têm de si mesmos. Que a sociedade tem dos idosos.


Os idosos têm muito carinho, amizade e amor dentro dos seus corações. São as mesmas pessoas que eram quando jovens, mas com mais experiência, mais tempo disponível e mais sabedoria. Imaginemos o quanto não podemos aprender com estas pessoas fantásticas que estão cá há tanto tempo. Imaginem as boas amizades que podem ter com os idosos à vossa volta. Crêem mesmo que tratamos de forma digna e correcta os nossos idosos? Não gostariam de ser vocês idosos rodeados de pessoas interessadas em conhecê-los, em aprender convosco, em conviver, em passar bons momentos?


Tudo isso é possível se começarmos a agir assim com os nossos idosos. Pequenos passos acabam por se tornar grandes passos de mudança. Todos somos seres humanos à procura de aceitação, amor e carinho. E todos merecemos tê-lo enquanto vivermos. Temos a oportunidade de mudar o futuro dos nossos idosos. O nosso futuro. Porque então continuar no mesmo registo? Atreva-se a fazer a diferença!


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