Certa vez questionaram-me: De que te valeu teres crescido no campo? e levei algum tempo a reflectir sobre o assunto. Crescer e viver no campo foi em tempos um desafio. Quando era adolescente queria-me deslocar e não podia porque a minha terra fica distante da cidade. Nas férias da escola era um aborrecimento, então aproveitava e ia pela natureza fora andar de bicicleta, visitar um familiar, brincar com uma amiga.
Julgo que a minha melhor fase foi quando era criança. Os meus avós paternos viviam numa horta muito grande. Então eu via o meu avô semear, regar, dar comer aos porcos, às ovelhas e aos coelhos. Ainda me lembro de ver as flores que cresciam no alegrete, perto da casinha humilde da minha avó. Eram tão bonitas! Também me recordo da minha avó lavar roupa no tanque e um dia o sabonete ter caído... a sorte foi a vara de metal que o meu avô tinha por ali. Safou a coisa...😀 O ar era leve e fresco. Eu brincava muito e explorava, mas também fugia dos perus e corria atrás das borboletas brancas.
Nas estações quentes, comer tomates ou morangos acabados de colher, não tinha preço. O limoeiro do meu avô estava sempre carregado. E o cheiro das batatas fritas da vizinha da minha avó eram o presente ideal, no final do dia, antes de eu ir para casa. Foram tempos maravilhosos!
Só em adulta é que percebi verdadeiramente o facto de ter crescido numa aldeia rural. Precisei do silêncio para me encontrar. Foi no silêncio e no isolamento que fui bem fundo; escavei, escavei e consegui ouvir-me.
Aprendi a silenciar a mente, a ouvir as respostas, a ser mais calma, tranquila. Fiz um grande trabalho interior desde 2013, altura em que se iniciou o meu despertar; mas isso também só foi possível porque vivi sempre no meio da Mãe Natureza. Se tivesse crescido na cidade, tinha mais distracções e o encontro comigo mesma talvez não acontecesse ou se atrasasse.
Viver no campo pode ser aborrecido para muitas pessoas, mas para mim é reconfortante, Gratidão à Mãe Natureza.
